UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO TECNOLÓGICO – CTC

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Exemplos Significativos da Arquitetura Residencial para a Ocupação de Encostas em Florianópolis, SC

 

 

 

 

 

 

 

Relatório final de atividades

PIBIC UFSC 2003-2004

 

 

__________________________

Bolsista: Talita Weissheimer Abraham

 

 

__________________________

Orientadora: Sonia Afonso

 

 

Florianópolis, agosto de 2004.

sumário

 

1.

Resumo -----------------------------------------------------------------------------------

03

2.

IntroduÇÃo ----------------------------------------------------------------------

03

2.1.

Justificativa --------------------------------------------------------------

04

2.2.

Problema -------------------------------------------------------------------

04

2.3.

Objeto de estudo --------------------------------------------------------

05

 

2.3.1. Residências em encosta --------------------------------------------------

05

 

 

2.3.1.1. Exemplos brasileiros pesquisados -------------------------------------

05

 

 

    2.3.1.1.1. Casa de vidro – Lina Bo Bardi ----------------------------------

05

 

 

     2.3.1.1.2. Casa das Canoas - Oscar Niemeyer ----------------------------

06

 

 

     2.3.1.1.3. Residência Liliana Guedes – Joaquim Guedes ----------------

06

 

2.3.2. Arquiteta Carmem Cassol ------------------------------------------------

07

 

 

2.3.2.1. Residências projetadas por Carmem e Ademar Cassol Arquitetos

07

2.4.

Objetivos -------------------------------------------------------------------

08

2.5.

Revisão bibliográfica --------------------------------------------------

09

3.

Materiais e Métodos -------------------------------------------------------

12

4.

Resultados E DISCUSSÃO---------------------------------------------------

14

4.1.

Apresentação da Residência de Estudo------------------------------------------

16

 

4.1.1. Maquete Eletrônica ------------------------------------------------------

26

5.

ConclusÃO ------------------------------------------------------------------------

28

6.

Referências bibliográficas ------------------------------------------

29

 

 

 

 

 

 

1. Resumo:

 

A construção na encosta permite grande liberdade criativa e requer maior quantidade de detalhamentos para a sua implantação. Tendo em vista a ocupação das encostas em Florianópolis, foi escolhido como tema de pesquisa a sua ocupação residencial, com o objetivo específico de guiar novas construções de qualidade, não prejudicando o ambiente em que estão inseridas. Por tais motivos propomos analisar residências já construídas.

Foi selecionada uma construção de linguagem modernista para o estudo, especialmente porque sua intervenção apresenta menor impacto no terreno. Com o estudo da Arquitetura Moderna Brasileira, pode-se compreender as linhas de pensamento concretizadas na obra, no caso, a residência projetada pelos arquitetos Carmem e Ademar Cassol, e compreender sua inserção no espaço urbano, buscando conceitos que nos confirmam a relação da Arquitetura Moderna como modelo de ocupação em encosta. As análises métrica, paisagística, projetual e técnica permitiram uma melhor compreensão da obra e sua adequação à época de construção.  O conhecimento de soluções práticas de ocupação do solo de encostas é bastante recomendável.

Concluímos que para sua implantação deve-se preservar ao máximo o terreno original (evitar cortes e aterros), adotar taxas de impermeabilização aceitáveis levando em conta a não ocupação sobre os cursos d’água e a manutenção da vegetação como meio de contenção natural.

 

Palavras Chave: Ocupação de Encostas; Arquitetura Moderna; Residências em Florianópolis.

 

 

2. IntroduÇÃo:

 

Grande domínio projetual e amplo conteúdo para análise de ocupação em encostas foram os pontos principais que nos levaram à escolha da residência dos arquitetos Carmem e Ademar Cassol como objeto de estudo. O exemplo selecionado permitiu a realização de levantamentos a fim de conhecer sua natureza, suas proporções, suas funções, suas relações de integração com o ambiente externo.

Para a compreensão do projeto procuramos desenvolver análise do projeto executivo e ainda para melhor visualização, uma maquete tridimensional.

 

 

 

 

 

2.1. Justificativa:

 

Com o grande processo de ocupação das encostas em Florianópolis, a segurança das construções locais e do meio ambiente é cada dia mais preocupante. As conseqüências da ocupação de uma área não favorável podem ser devastadoras. A permeabilidade do solo é prejudicada quando não são respeitadas as taxas de ocupação nos lotes onde se pode fazer uso da vegetação para a continua irrigação e contenção do solo. Edificar em locais por onde passam os cursos d’água também é um fator para desastres resultando em: deslizamento de terra, assoreamento dos rios, erosão, rolamentos de blocos de rocha e alagamentos.

Por esses motivos, fez-se necessária a análise de um exemplo significativo, buscando critérios de projeto que respeitassem as leis naturais de conformidade da terra e que servisse de modelo para futuras ocupações, pois conhecendo o local onde se situa a construção, tem-se a certeza que a ocupação foi realizada de maneira segura. Levantamentos e estudos nos propiciaram um melhor contato com a obra e o entendimento de seus princípios. A entrevista com os autores permitiu a compreensão do pensamento utilizado na concepção do projeto e o que este representa para o ambiente.

 

2.2. Problema:

 

 “As encostas constituem-se em um dos diferentes tipos de formas de terreno, originados pela ação de forças externas e internas, através de agentes geológicos, climáticos, biológicos e humanos que vêm, através dos tempos, esculpindo a superfície da Terra.”(CUNHA, 1991)

Como grandes atuantes nas mudanças que o território edificado sofre, os arquitetos possuem a obrigação de ter o conhecimento necessário para a ocupação de terrenos acidentados. Infelizmente no curso de graduação não existem cadeiras com este objetivo, o que resulta em graduados inexperientes na área e que terão permissão para projetar em encostas mesmo não tendo conhecimento sobre o assunto. Isto agrava ainda mais a futura situação de ocupação nos morros e põe vidas em risco.

Foi verificado no estudo geotécnico realizado pela orientadora Sonia Afonso, que “as cartas topográficas e toda a cartografia temática a elas associada são desconsideradas” por muitos arquitetos na hora de projetar (AFONSO, S., 1999). Uma vez que estas informações acima relacionadas têm importância crucial para um planejamento urbano coerente com a realidade, elas não poderiam ser esquecidas.

Como um exemplo imediato para projetar a implantação de assentamentos em encostas, deve-se saber como preservar as características originais do terreno. A leitura da obra de Cunha (1991) nos alerta para:

·         o traçado natural das drenagens;

·         a presença de vegetação associada à contenção natural das encostas;

·         a tolerância da encosta à execução de cortes e aterros.

 

 

 

 

2.3. Objeto de estudo

 

2.3.1. Residências em encosta

 

A Arquitetura Moderna ocupando terrenos acidentados tem se mostrado importante exemplo a ser seguido. Pensando em apresentar residências que seguem esta tendência, foi realizado um levantamento das obras que exemplificam com clareza os princípios que as enquadram neste movimento que tanto gerou debates entre seus precursores brasileiros e estrangeiros.

O contínuo contato com o objeto de estudo da Arquitetura Moderna guia o pensamento e nos leva a entender os mecanismos utilizados na hora da concepção do projeto.

 

 

2.3.1.1. Exemplos brasileiros pesquisados:

 

2.3.1.1.1. Casa de vidro – Lina Bo Bardi – São Paulo, 1950-1951

 

       

Fotografias da residência de Lina Bo Bardi

Fonte: (BARDI, 1999)

 

Primeira obra concretizada integralmente pela arquiteta. Nela estão representadas lições do modernismo como os pilotis sustentando levemente um bloco horizontal com fechamento de vidro.

Localizada em uma encosta no Bairro do Morumbi, evidenciava a beleza da Mata Atlântica e representa um meio de construção que está comprometido com a preservação ambiental. Fez uso de técnicas que menos danificam o solo e a vegetação, e como exemplo criou uma abertura em sua estrutura para incorporar uma árvore e o verde à residência.

“A Casa de Vidro do Morumbi projetada por Lina Bo Bardi é ousada, visionária, pioneira - uma dose concentrada do que de melhor a arquitetura modernista brasileira produziu no século 20”. (MEDEIROS, 2001)

 

 

 

2.3.1.1.2. Casa das Canoas - Oscar Niemeyer – Rio de Janeiro, 1953

 

    

Croqui de Lucio Costa, 1950                                         Fotografia da residência

Fonte: (SANTOS, 2004)

 

“Minha preocupação foi projetar minha residência com inteira liberdade, adaptando-a aos desníveis do terreno, sem o modificar, fazendo-a em curvas, de forma a permitir que a vegetação nela penetrasse, sem a separação ostensiva da linha reta. E criei para as salas de estar uma zona em sombra, para que a parte envidraçada evitasse cortinas e a casa ficasse transparente como preferia”, resume o arquiteto Oscar Niemeyer. (SANTOS, 2004)

A residência que foi projetada antes dos anos 50 e executada até 1953, foi alvo de muitas críticas e geradora de debates sobre conceitos da arquitetura moderna brasileira. Possui fechamento de vidro o que não limita o olhar através da residência. O piso e as floreiras externos penetram na obra e funcionam como integradores do espaço. É uma casa que permite a simbiose entre a arquitetura e a paisagem. A integração vital da casa na natureza foi influenciada pela obra do amigo pessoal de Niemeyer, o paisagista Burle Marx, uma pessoa muito importante para entender e situá-lo corretamente. “Sem a visão de Burle Marx sobre a paisagem, Niemeyer talvez jamais conseguisse chegar nessa residência sublime”.(DUBOIS, 2004)

 

2.3.1.1.3. Residência Liliana Guedes – Joaquim Guedes – São Paulo,1971

 

Residência implantada em terreno acidentado possuindo sua entrada no nível da rua e a parte principal da residência abaixo desse nível, permitindo o disfarce e a não percepção da obra para pessoas que trafeguem distraídas.

Possui módulo retangular de concreto armado sustentado apenas por quatro apoios, com brises e painéis móveis que permitem a abertura e a permeabilidade do corpo principal da casa à paisagem circundante.

Fotografias do exterior e interior da residência

Fonte: (Process Architecture, 1980)

 

2.3.2. Arquiteta Carmem Cassol

 

Em entrevista cedida à aluna de Pós-Graduação do PósARQ (GOMES,2003), a arquiteta fala um pouco sobre seu trabalho:

A Arq. Carmem Cassol, graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e com 40 anos de experiência profissional é fundadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC. Os tipos de projeto mais freqüentes realizados em seu escritório são residências, edifícios comerciais / públicos, reforma de interiores (principalmente de edifícios residenciais), paisagismo, patrimônio histórico e urbanismo.

Sobre a legislação, a arquiteta cita que as normas urbanas limitam a criatividade do arquiteto e que para projetar um edifício simples costuma montar um prisma conforme a ocupação máxima permitida e subtrai partes, apenas para dinamizar a composição, já quando o projeto não é tão amarrado, prefere formas livres. Se a economia é fundamental para o cliente, utiliza malhas geométricas com o objetivo de racionalizar a estrutura, modular blocos de alvenaria ou estruturas de cobertura.

A arquiteta não se preocupa no ato de projetar com a introdução de uma linguagem própria que lhe confira reconhecimento como autora do projeto, diz que às vezes o projeto acaba ficando com a cara do arquiteto, pois ele repete elementos que lhe agradam, mas é apenas uma conseqüência e não está presente conscientemente durante o ato de projetar.

 

2.3.2.1.  Residências projetadas por Carmem e Ademar Cassol Arquitetos:

 

Uma relação completa das obras dos Arquitetos Carmem e Ademar Cassol está cadastrada no Conselho de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Santa Catarina – CREA-SC, mas visando esta pesquisa foi fornecida pela arquiteta uma lista de residências e endereços dos proprietários, o que permitirá a continuidade dos estudos até aqui realizados. São as seguintes :

-          Residência Pedro Dittrich Junior;

-          Residência Raquel Cassol Krieger;

-          Residência Rodrigo Maykot Mateus;

-          Residência Oswaldo Salaverry del Busto;

-          Residência Cláudio Antonio Oliveira;

-          Residência Mario José Mateus;

-          Residência Alexandre Vieira;

2.4. Objetivos:

 

Geral:

·         Progredir na prática de análise projetual em situações de difícil implantação

 

Específicos:

·         Compreender a lógica construtiva e morfológica de edificações em encostas;

·         Identificar os elementos da Arquitetura Moderna na residência selecionada;

·         Analisar o zoneamento da residência com o objetivo de compreender a distribuição das diversas atividades: serviços, lazer, público / privado;

·         Simular volumetricamente o exemplo escolhido para melhor compreensão da construção e visando detectar padrões recomendáveis de ocupação de encostas;

·         Identificar características de projeto que possam ser utilizadas em outras situações de ocupação dos morros.

 

 

 

 

 

2.5. Revisão bibliogrÁfica:

 

 

YIN, Robert K., Estudo de caso: planejamento e métodos, Porto alegre: Bookman, 2001.

 

Do livro se obtêm informações sobre como proceder na elaboração de um estudo de caso, desde a primeira vez em que se está pensando nele até no cálculo para terminá-lo dentro do prazo estipulado.  Deve-se obedecer às organizações planejadas e não ter medo de recomeçar a pesquisa. Deve-se sempre ter em mãos onde anotar possíveis rascunhos de entrevistas espontâneas, e ter onde guardá-las organizadamente. É uma ótima referência bibliográfica que deve permanecer junto de jovens pesquisadores durante todo o prazo da pesquisa.

“ Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos.”

 

 

ACAYABA, Marlene Milan. Residências em São Paulo 1947-1975. São Paulo, Projeto, 1986.

 

O livro em questão serve como base para a análise de residências. Assim como a cidade evolui, desenvolvem-se as concepções dos projetos das residências. “O saber do arquiteto reside no projeto, instrumento com que operacionaliza sua concepção do espaço”. Daí a importância de se estudar uma construção, com levantamentos, tanto arquitetônicos, quanto paisagísticos e fotográficos, pois estamos revelando o projeto, revelando os processos de sua construção, sua organização, partido e intenções. Todos esses estudos registram um edifício, “provam sua existência, mesmo se for demolido”.

O estudo de cada residência é formado pelo seguinte material:

planta de situação – para orientação no bairro, facilitar as comparações entre as implantações de diferentes residências e inserir a obra na cidade;

levantamento arquitetônico – lista das mudanças ocorridas no projeto durante ou após a construção;

levantamento métrico – comparação entre as medidas de projeto e reais;

desenho arquitetônico – desenhos técnicos de plantas e cortes na escala 1:200, feitos a partir dos projetos executivos cedidos pelos arquitetos;

fotografias – dos principais elementos construtivos do espaço e das formas de uso da casa;

ficha técnica – contendo dados sobre o arquiteto e o proprietário, meio de contato entre os dois, composição familiar, localização da obra, ano do projeto, construtor e demais profissionais envolvidos na obra, programa e áreas parciais, área total, materiais empregados e orientação dos principais cômodos;

memorial – descrição do partido, técnicas e as determinações do programa.

 

 

 

XAVIER, Alberto; BRITTO, Alfredo; NOBRE, Ana Luiza. Arquitetura Moderna no Rio de Janeiro. São Paulo: Pini: Fundação Vilanova Artigas; Rio de Janeiro: RIO ARTE, 1991.

 

O presente livro procura mostrar os registros das obras edificadas mais significativas no Brasil, fundamentais para o entendimento do Modernismo e suas repercussões na Arquitetura Brasileira.

Exemplos de construções sobre encostas:

·  Edifício Nova Cintra, Bristol e Caledônia – 1948 – Lúcio Costa

“A necessidade de proteção destas fachadas promoveu um exercício formal de grande beleza e originalidade, resultando numa composição alternada de elementos cerâmicos vazados e quebra-sol de madeira que determina o caráter do conjunto.”

·  Residência Carmem Portinho – 1950 – Affonso Reidy

“ O acesso é feito pelo nível mais alto, que repousa diretamente no terreno, onde estão garagem e dependências de serviço. Chega-se ao corpo da casa por uma rampa em tábua corrida com inclinação igual à da cobertura.”

·  Edifício Silvestre – 1953 – Álvaro Vital Brasil

“...tal harmonia resulta da implantação primorosa do bloco residencial à encosta, com destaque para a manutenção integral do perfil original do terreno. O acesso se dá ao nível da rua, por meio de uma ponte que conduz ao terraço de cobertura sob o qual se localizam três pavimentos de apartamento, sobre pilotis.”

 

 

BOOTH, W.C.; COLOMB, G.G.; WILLIAMS, J.M., A Arte da Pesquisa. Martins Fontes: São Paulo, SP, 2000.

 

É um roteiro de pesquisa que mostra de forma detalhada os processos necessários para a elaboração de um relatório. Pesquisadores iniciantes e intermediários são orientados na maneira de começar a redigir e organizar sua pesquisa. Mostra como “converter o interesse por um assunto em um tópico, esse tópico em algumas boas perguntas e as respostas a essas perguntas na solução de um problema.”

Algumas dicas selecionadas:

·         Devemos escrever para lembrar / entender / ter perspectiva;

·         Anotar observações, críticas ao longo das leituras que então ajudarão na confecção do relatório;

·         Elaborar fundamentos;

·          “diagramas e gráficos têm maior força visual. Estimulam os leitores a reagir à imagem visual;

·         os diagramas convidam os leitores a fazer comparações.”

 

Mostra também como verificar seus textos de um modo a dar clareza e ênfase quando necessário. Deve sempre estar em contato com esta bibliografia por conter inúmeros tópicos de ajuda e consulta.

 

 

 

CUNHA, M.A. (Org.)Ocupação de Encostas. São Paulo. Instituto de Pesquisas Tecnológicas. 1991.

 “As encostas constituem-se em um dos diferentes tipos de formas de terreno, originados pela ação de forças externas e internas, através de agentes geológicos, climáticos, biológicos e humanos que vêm, através dos tempos, esculpindo a superfície da Terra”.

A dinâmica das encostas é regida pelos processos de transporte de massa e pelos movimentos gravitacionais de massa. O processo de transporte de massa tem como meio transportador a água, o ar e o gelo, sendo que no nosso clima predominam os processos transportados pela água. Isso demonstra a importância que devemos dar aos cursos d’água.

A ocupação humana do solo representa o fator decisivo na aceleração dos processos erosivos. Para a implantação de assentamentos em encostas deve-se preservar ao máximo as características originais do terreno.

Sempre que um sistema viário cruzar linhas de drenagens, torna-se necessária a execução de galerias pluviais ou o desvio para canaletas ou sarjetas da própria via.

As habitações a serem implantadas em encostas devem ser projetadas especialmente para esta situação. Em casas térreas deve-se seguir o curso das curvas de nível, naquelas com mais de um pavimento, pode-se adotar desníveis de meio pé-direito ou utilizar um pavimento semi-enterrado.

 

AFONSO, Sonia. Urbanização de Encostas. A Ocupação do Morro da Cruz. Florianópolis. SC. Trabalho Programado 2. Estudo Geotécnico. Curso de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. Área de Concentração Estruturas Ambientais Urbanas. Nível de Mestrado. São Paulo. FAUUSP.1992.

 

Com freqüência no cotidiano da prática projetual dos arquitetos, nota-se que as cartas topográficas são desconsideradas. Neste estudo o objetivo é salientar a importância da cartografia geotécnica como instrumento de projeto e como forma de auxílio à tomada de decisões no planejamento urbano. Como resultados foram apresentados: a “análise das ocorrências e riscos, comentários sobre a aplicação das cartas geotécnicas e como conclusão apresentamos recomendações que consideram a aptidão física do Morro da Cruz ao assentamento urbano e a necessidade de se criar faixas de transição entre as áreas sem problemas, a serem urbanizadas e as áreas acima, a serem preservadas.”

O texto nos mostra a importância de se preservar a floresta existente nas encostas como forma de manutenção da contenção natural, bem como de evitar a mutilação do terreno e a alteração na dinâmica das linhas de drenagem natural existentes nos morros. Demonstra os parâmetros para minorar os efeitos dos escorregamentos, como intervir nos morros para propiciar uma ocupação racional e econômica e que se deve propor a remoção das moradias implantadas em áreas instáveis.

“Um planejamento conseqüente respeita os estudos técnicos elaborados, realiza as obras recomendadas, fiscaliza as novas ocupações e as áreas a serem preservadas, e sobretudo, coloca à disposição um conhecimento técnico necessário à elaboração e à análise dos novos projetos que devem estar adaptados ao ambiente”.

 

 

3. Materiais e Métodos:

 

A pesquisa faz parte do Projeto APA – Arquitetura e Paisagem: Avaliação da Inserção Urbana no Meio Físico (CNPq 2003-2007) e realiza-se na sala da orientadora Sonia Afonso e do professor Almir Francisco Reis, orientador do Grupo PET. Tem como equipamentos de informática os adquiridos através de projetos aprovados pelo FUNPESQUISA 2001 (computador, softwares e scanner), FUNPESQUISA 2002 (máquina digital e scanner para slides) e do FUNPESQUISA 2003 (computador e impressora). Além destes é comum o uso dos computadores pessoais das bolsistas (quatro ao total).

O trabalho foi iniciado com a revisão de literatura sobre Urbanização de Encostas, Metodologia Científica, Arquitetura Moderna e Paisagismo, juntamente foram ocorrendo participações em alguns seminários da disciplina de Urbanização de Encostas do PósARQ, preparando inclusive uma apresentação sobre estudo geotécnico. Do contato com os alunos foi possível realizar um treinamento dos programas ArcView e Microstation ministrado pelo mestrando Dirceu Machado do PPGEC. Esse serviu para que as bolsistas de iniciação científica tivessem contato com um aplicativo que sistematiza informações geográficas e assim verificar a utilidade do programa para a realização de cada pesquisa. Outros cursos com objetivo de manuseio de novos softwares foram os de Coreldraw, Photoshop e Frontpage ministrados pelo projeto Oficinas oferecidos pela UFSC e curso do programa Autodesk Architectural 2004, realizado com recurso próprio da bolsista, visando elaborar a  maquete eletrônica da residência estudada. Ainda como trabalho complementar foi realizado um pôster com a revisão de literatura do estudo geotécnico[1] para o XIII Seminário de Iniciação Científica (SIC) em 2003, o qual também foi apresentado no 3°SEPEX realizado no mesmo ano.

Com a escolha da construção a ser estudada (residência dos arquitetos e moradores Carmem e Ademar Cassol), iniciou-se a coleta dos desenhos, mapas e plantas para a vetorização e digitalização. Houve o contato com os arquitetos e possibilidade da realização de levantamento fotográfico tanto externo (paisagístico), quanto interno (mobiliário e zoneamento).

Após o conhecimento e análise da edificação, realizou-se a criação de um modelo em 3D para melhor visualização e compreensão da edificação. Para tal, foi necessário o aprofundamento do estudo do Autodesk Architectural 2004. Com este programa é possível gerar um modelo renderizado e visualizá-lo de todos os ângulos, o que facilitou a compreensão e aumentou o interesse da bolsista pelos detalhes executivos na construção.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MATERIAL

MÉTODO

Teses, livros, relatórios, publicações periódicas e sites específicos para Arquitetura

Revisão bibliográfica, atualização de arquivos cedidos pelo IPUF e também como forma de consulta e informações de novos cursos dispostos no mercado.

Curso das Oficinas da UFSC

Realização de curso preparatórios para utilização dos softwares Coreldraw, Photoshop e FrontPage

Levantamentos

Visita à residência para levantamento fotográfico interno e externo para estudo paisagístico e do edifício

Plantas e desenhos

Digitalização, escanerização de mapas e imagens trabalhados em software de digitalização.

Software AutoCAD e

Autodesk Architectural 2004

Vetorização de plantas, cortes, fachadas, implantação, vegetação e maquete 3D em escalas diversas.

Câmera digital Sony Mavica 2000

Realização dos levantamentos fotográficos

Software Coreldraw e Photoshop

Tratamento de imagens.

Micro-Computador processador AMD 750MHz, placa –mãe – Mod.ATLOM, 128 Mb RAM DIMM, 512 Kb de cachê, disco rígido de 10GB, Gabinete Torre – Mod. Nilko, Gravador de CD ROM LG, Placa controladora “On Board”, Placa de Vídeo de 32MB, Monitor LG 795F 17;

Micro-Computador proc. AMD DURON 2400MHz BOX, HD 80 GB 7200 RPM, modem 56K V92 Lucent; CD-RW 52x32x52 LG; Drive 1.44MB; Gabinete Atx04 BAIAS 400W; Estabilizador 300 VA Enermax; Monitor 17” Lg e semi-plano;

 

Impressora HP deskjet 3550;

Impressora HP deskjet 840c;

Scanner HP 5300 – resolução 1200 x 1200dpi,

 

Equipamentos de informática utilizados para o andamento da pesquisa de iniciação científica.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

4. Resultados E DISCUSSÃO:

 

Residência Moderna x Residência Cassol

 

O movimento chamado “Semana de Arte Moderna de 1922” foi o grande idealizador de uma “nova arte”. Pretendeu ampliar os conceitos do belo e puro. Na Arquitetura, foi Warchavchik quem deu início ao Modernismo em São Paulo na década de 20. Mas os ideais difundidos por Le Corbusier (janela horizontal, pilotis, concreto armado, terraço-jardim, planta e fachada livres) não foram alcançados plenamente nas obras do arquiteto precursor. As suas dificuldades ao implantar o Modernismo no Brasil foram a legislação vigente na época, o preconceito da população, custos ainda elevados para execução e tecnologias não desenvolvidas no país.

Nas primeiras residências modernistas realizadas, “podia-se constatar um despojamento voluntariamente agressivo, característico da obra de pioneiros que reagem contra os floreios acadêmicos. A influência do cubismo, porém, não se limitava à fisionomia externa, composta por prismas elementares; eram visíveis as pesquisas de continuidade espacial, de ligação entre o exterior e interior.” (BRUAND, 1981. pg.67)

Xavier (1991) identifica algumas características das residências no período moderno:

·        Transparências;

·        Organização da planta visando à criação de um espaço contínuo;

·        Grandes aberturas;

·        Ambientes de estar em comunicação direta com a vasta varanda sem criar uma separação visual;

·        Concreto armado;

·        Composição rigidamente horizontal;

·        Brise-soleil;

·        Busca da integração – Arquitetura + Artes Plásticas;

·        Terraço-jardim.

O modernismo tem grande contribuição para a arquitetura em encostas. Suas obras horizontais que favorecem a continuidade e a visão da paisagem, incorporam os pilotis, que além de criar um espaço de convívio, permite uma abertura visual e de circulação, contribuindo para uma maior permeabilidade do solo. Um importante item a ser citado é que com os pilotis, o terreno não é tão danificado, pois há um menor contato da edificação com o solo e uma menor movimentação de terra realizada pelo homem, alterando o menos possível suas configurações naturais.

Depois das muitas tentativas e obras criticadas de Warchavchik, surge Lúcio Costa, que se tornaria o grande mestre brasileiro. É sobre ele este relato a respeito da ocupação em encostas:

“Lúcio Costa adotou para todas as construções (...), o piloti louvado por Le Corbusier, por constituir a solução mais lógica para o terreno acidentado: reduziam-se os trabalhos de preparação do terreno, o que compensava o elevado custo local do concreto armado; o emprego deste revelou-se até mesmo econômico, já que a criação de um piso artificial isolado da unidade do solo natural permitiu retomar, especialmente para as residências, o processo tradicional e econômico...”. (BRUAND, 1981. pg.75)

Para trabalhar com Lúcio Costa, surge o jovem Oscar Niemeyer, que se revelou o ousado arquiteto das curvas da arquitetura moderna e amante da estética monumental. Uma das residências mais fantásticas na linguagem moderna que ainda conta com a poética de Niemeyer é sua antiga residência em Canoas. Ela mostra respeito à integridade do local e incorpora os elementos da natureza com suas transparências e avanços ondulantes. A vista para o mar e a preocupação com o declive acentuado do terreno foram pontos para o pensamento da composição arquitetônica da obra. “... foi essa casa que permitiu uma simbiose entre a arquitetura e a paisagem (...), levada a um grau raramente alcançado...” (BRUAND, 1981. pg.164)

Mas as integrações entre ambiente e construção não são obra somente dos arquitetos modernistas. Os paisagistas, entre eles Burle Marx, contribuíram muito para a composição de verdadeiras obras de arte no campo moderno. Tendo obras em todo o Brasil, difundiu sua maneira de criar ambientes e despertar sensações através dos volumes de cores criados pela seleção de suas plantas. Burle Marx identificou e catalogou várias espécies de vegetação e também uma nova maneira de difundir a integração entre os ambientes: o natural e o construído.

A residência dos arquitetos Ademar e Carmem Cassol não segue o lirismo formal de Niemeyer, nem as massas coloridas de Burle Marx. Essa adota uma planta geometricamente concebida, semelhante às obras dos arquitetos paulistas, identificados como brutalistas, pelo uso de materiais como o concreto aparente. Assim, a vegetação não surge plena na composição do espaço. Os materiais empregados na residência também se distanciam da vegetação, uma vez que se oferece um contraste notável entre o verde e o concreto aparente.

A implantação da residência respeita a localidade onde está inserida. Construída em um terreno de grande declividade, ela é sustentada pelo volume central onde se localizam os pilares e aflora apenas nos pavimentos superiores. Pode-se dizer que a construção favorece a idéia de que quanto menos se altera o terreno, amenizam-se os riscos da implantação de uma construção em encosta.

Para intensificar a sensação de uma residência implantada em terreno inclinado, mesmo a casa estando suspensa, ela se ergue conforme a topografia. O bloco de entrada nos guia para dois lances de escada, um que dá acesso ao térreo e outro que nos eleva o suficiente para termos uma belíssima vista da Baía Norte e da Ponte Hercílio Luz. Continuando o percurso da residência, sobe-se novamente e assim alcançamos a porção privativa da casa, que assim como está situada na área mais elevada da construção, encontra-se na zona mais elevada da sua projeção no terreno.

Comprovam-se pelas características descritas por Xavier (1991) que a residência trata-se de uma obra modernista. Ela apresenta uma planta que integra visualmente os ambientes e com a transparência do vidro (grandes módulos de vidro temperado, utilizados como vedação na varanda e no bloco de entrada) consegue integrar também o exterior. Possui como cobertura do bloco térreo um terraço-jardim, característica essa bastante utilizada pelos modernistas como forma de otimizar a utilização do espaço, criando jardim sobre laje de cobertura.

 

 

 

 

4.1. Apresentação da Residência de Estudo

 

·         Localização: Rua 14 de Julho, 932, Coqueiros, Florianópolis, SC – Brasil;

·         Projeto: anos 1950;

·         Arquitetos e proprietários: Ademar e Carmem Cassol;

·         Área construída: 414, 80 m²;

·         Área terreno: 1.596m².

 

                                    Localização esquemática da residência

                                               Fonte: (IPUF, 1979)

                   

                           Plano Diretor da Área

                              Fonte: (IPUF, 2004)

                                                   Fonte da fotografia: Boletim IAB, 2002

Entorno / sítio

 

A residência estudada localiza-se em Coqueiros, bairro situado na porção continental de Florianópolis. A rua em questão é relativamente antiga, não sendo encontradas obras recentes durante as visitas ao terreno. As construções que ocupam os terrenos em declive ao longo da via, próximos ao mar, são escondidas pelos altos muros que barram a visão e devido à topografia acidentada que contribui para que as residências não ultrapassem a altura do muro. As construções que apresentam o primeiro piso no alinhamento da rua não ultrapassam o gabarito de três andares.

A vegetação foi mantida apenas por algumas residências à beira-mar ou aparecem em terrenos ainda não ocupados, sendo bem respeitada na residência estudada.

 

 

Portão/Rua

     

                                     Rampa                                        

                                                            

     

 

 

   Mar

Vistas: do portão da residência, rua e de outras casas

Foto: Talita Abraham

 

Implantação esquemática do terreno realizada pela bolsista

 

 

 

 

Residência Ademar e Carmem Cassol

 

A residência pode ser dividida, para melhor compreensão, em dois blocos. Um, térreo e de serviços e o outro, destinado à moradia. O bloco térreo abriga dependência de empregada, churrasqueira e acesso vertical do pátio superior. No mesmo nível, mas já integrando o bloco principal, encontram-se a lavanderia, o acesso vertical de serviço, a oficina, adega, sala de TV e biblioteca e acesso vertical principal.

O bloco principal no primeiro pavimento é separado por dois acessos:

·         de serviço, que nos leva à dependência de empregada e à circulação vertical de serviço;

·         o social, que conduz ao hall, circulação vertical principal, atual sala de música (localizada em um desnível de sete degraus abaixo) que acompanha a extensão realizada pelo deck.

O segundo pavimento é composto por cozinha, circulação vertical de serviço, sala de jantar, lavabo, sala de estar e sacada e seguindo a circulação vertical principal (superando um desnível de seis degraus) chega-se às suítes e à bancada do escritório com biblioteca.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Acesso de serviço

Dependência de empregada

Churrasqueira

Oficina

Adega

Sala de TV e biblioteca

Circulação de serviço

Lavanderia

Circulação principal

                                                                                     

Planta térreo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Acesso de serviço

Acesso principal

Circulação de serviço

Dependência de empregada

Hall

Circulação principal

Sala de música

Deck

Planta primeiro pavimento

 

 

 

 

 

 

 

 


Suítes

Circulação de serviço

Circulação principal

Mesa de escritório

Cozinha

Lavabo

Sala de estar

Sala de jantar

Sacada

Planta segundo pavimento

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

Acesso/ entrada

O acesso da rua parece privilegiar o automóvel, já que o portão de entrada nos guia a uma rampa em curva que chega até o espaço destinado à garagem. Esta não é fechada, ela se constitui apenas pela cobertura em balanço da porção oeste da construção. No mesmo espaço coberto se encontra a caixa de vidro que representa a entrada dos pedestres ao hall. Também neste nível tem-se a entrada de serviços que conduz à dependência de empregada e à torre de circulação.

 

Rampa de entrada

Foto: Talita Abraham


A diferenciação de piso primeiramente se dá ao alcançar a garagem. Percorre toda a rampa com lajotas hexagonais e com a interrupção de uma grelha que cobre a calha, chega ao piso de concreto. Nos caminhos ao redor da residência, encontram-se placas de concreto espaçadas uma das outras e intercaladas pelo gramado.

        

 

 

 

           Caixa de entrada de pedestres

                        Foto: Talita Abraham                                         

Canaleta marcando diferença de pisos

Foto: Talita Abraham

 

Circulação

Horizontal

 

A movimentação entre os espaços acontece de maneira confortável e bem distribuída. No térreo integra o bloco com churrasqueira e a sala de TV. A vegetação encontrada cria volumes interessantes e que conduzem a circulação pelo pátio.                  

 

Acesso à sala de TV

Foto: Talita Abraham

No pavimento de entrada encontra-se a circulação diferenciada entre o social e o acesso de serviços, o que significa uma ordenação do fluxo. Há a possibilidade do contato com o ambiente externo pela travessia da sala de música e deck ou pelo caminho da vegetação realizado pelas lajotas de concreto intercaladas pelo gramado, esta rota destina-se também ao deck.       

 

 

 

Circulação do pátio Foto:Talita Abraham

Já no segundo pavimento, a circulação ocupa uma área densa integrando cozinha, sala e sacada e possui uma circulação linear no setor privado (suítes).

Este tipo de conformação do espaço garante um amplo setor semi-publico. Ela agrupa a sala de estar e a sacada sem bloqueios visuais e a cozinha com a sala de jantar.                         

                                            

 

 

Integração dos ambientes internos

Foto: Talita Abraham

 

Vertical                                                                                                    

 

Em se tratando de um terreno acidentado, a movimentação vertical tem importância fundamental na residência. As opções seriam escadas, rampas ou elevadores, sendo escolhidas as escadas.

A circulação vertical principal dos moradores é configurada por três módulos de escadas de concreto engastadas. Do piso térreo ao primeiro pavimento possui formato convencional de concreto com degraus de madeira; do hall (primeiro pavimento) ao segundo pavimento constitui-se de uma escada engastada de concreto e que permite a permeabilidade da visão por não conter espelhos; já no desnível que o segundo pavimento possui, têm-se degraus convencionais cobertos por placas de madeira.                                             

 

Escada engastada

Acesso ao térreo / rocha como elemento de composição                                   

Foto: Talita Abraham

Foto: Talita Abraham

 A torre de circulação de serviço possui uma belíssima composição de degraus de concreto engastados circularmente nas paredes deixando o eixo central livre. Apesar da sua pequena dimensão, ela atende às necessidades preestabelecidas de mobilidade entre pátio de serviços, lavanderia, dependência de empregada e cozinha.

A escada que não faz parte do bloco principal da construção está disposta junto ao bloco térreo, no extremo sul do terreno. É ela que conecta o terraço-jardim ao pátio de serviços, sendo pouco utilizada.

 

 

 

Degraus engastados

Foto: Talita Abraham

 

 

 

 

 

 

 

       

                                                                                  Acesso de serviço

Plantas de circulação                                                                  Circulação de serviço

Circulação principal

Circulação horizontal                                 

 

Volume / superfícies definidoras do espaço

 

A residência peculiar mantém-se sobre pilotis centrais, o que resulta em um volume vertical retangular. Para que a ocupação se desse de maneira horizontal, foram projetados balanços que ultrapassam ambos os lados do apoio. Outro volume vertical é a torre de circulação que se ergue lateralmente sendo utilizada também para armazenamento do gás e da caixa d’água.

Próximo à torre encontram-se brises vazados que permitem a entrada de luz para a circulação e cozinha. Estes modificam a textura das vedações em relação ao restante da construção.                          

 

Torre de circulação/brises

Foto: Talita Abraham

Na fachada oeste, onde estão localizados os dormitórios e os banheiros individuais (suítes), criaram-se volumes retangulares definindo a projeção do banheiro e proporcionando uma ruptura dos painéis lineares de vidro.

Elementos encontrados tanto na fachada leste quanto oeste foram os condutores de água pluvial, os quais são sustentadas por peças de concreto e dispostos no eixo central da construção.

 

 

Volumes dos banheiros

Foto: Talita Abraham

 

Um texto que exprime a linguagem das residências modernistas e que se enquadra na estudada seria: “Em todas elas, encontrava-se a mesma simplicidade racional da planta e da elevação – baseada na utilização quase exclusiva da linha reta, às vezes atenuada por uma ligeira curva dos elementos secundários -, o mesmo jogo de volumes cúbicos e prismáticos, a mesma superposição de terraços que asseguravam ao conjunto o essencial de seu caráter, a mesma nudez absoluta das paredes...” (BRUAND, 1981. pg 70).                                                                                                    

 

 

Condutores de água pluvial

Foto: Talita Abraham

 

Com a compra de mais uma faixa de terreno, houve a ampliação da construção. O bloco térreo foi projetado para atender às novas necessidades dos moradores, mas não desvaloriza a construção principal já que foi criado como terraço-jardim.

Volume retangular

Torre de circulação

Blocos vazados

Volume dos banheiros

vidro

Condutores pluviais

 

               Fachada Norte

 

 

 

        Fachada Oeste

 

Estrutura / técnica construtiva

 

A marcante característica dessa residência é o domínio do uso do concreto armado. As marcas deixadas pelas formas permanecem visíveis no teto e vigas, sendo apenas algumas paredes cobertas com chapisco fino. Alguns móveis também foram projetados em concreto, o que enfatiza a linguagem moderna da construção.                                                                                          

 

Formato da viga

Foto: Talita Abraham

 

A estrutura da residência é a própria obra de arte. Ela se encontra aparente nos formatos de intensidades dos esforços a serem suportados, como é o exemplo das vigas e degraus.

Outro texto exprime o quanto o concreto armado foi usado no modernismo e suas atividades: “A escolha do concreto armado explicável pelas condições econômicas, também correspondeu a um desejo manifesto de liberdade: adoção sistemática do principio dos pilares em recuo nos grandes edifícios a fim de liberar a fachada de toda servidão estrutural, exploração da flexibilidade do material para criar novas formas.” (BRUAND, 1981.pg 376)

Ao invés do uso de pilotis na encosta, utilizaram pilares centrais que sustentam toda a estrutura horizontal em balanço que permite a mobilidade no térreo. Outra característica moderna que a estrutura permitiu foram os panos de vidro delimitando a casa, o que integra o ambiente interno com a bela vista da Beira-Mar Norte e da ponte Hercílio Luz.

 

Integração de ambientes internos

Foto: Talita Abraham

 

 

Hierarquias / zoneamento funcional

 

Devido ao grande isolamento marcado pelo fechamento do terreno, diz-se que não há área publica nesta edificação, exceto quando vista do mar. A porção semi-pública é caracterizada pela churrasqueira, sala de TV (térreo); hall, sala de música e deck (primeiro pavimento); sala de estar, jantar,  cozinha e sacada (segundo pavimento). Nestas áreas há o maior contato de pessoas convidadas e reuniões em horas de lazer.

 

 

 

 

Vista do dormitório          Churrasqueira

Foto: Talita Abraham                                                                                           Foto: Talita Abraham

A área privada se resume aos dormitórios dispostos da forma linear no segundo pavimento e às dependências de empregada. Nestes ambientes o fluxo se restringe apenas aos moradores e pessoas íntimas.

As zonas privilegiadas são as da fachada leste, pois permitem uma esplêndida vista das Baías e da Ponte Hercílio Luz devido ao uso dos painéis de vidro como vedação.

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 


Planta térreo/primeiro/segundo pavimentos / Zoneamento                      Setor Privado

                                                                                                                 Setor semi-público

 

Definição dos espaços

 

A impressão que se tem ao adentrar a residência, chegando ao segundo pavimento é que toda ela é visível a seus olhos. Da sala se vê todas as portas dos dormitórios, da cozinha, da sacada e o local de trabalho. A integração dos ambientes proporciona sensação de controle, e amplitude.

Subindo o primeiro lance de escadas logo que se entra na residência, encontra-se o lavabo. Ele junto com a despensa, geladeira e um armário fazem a divisão do espaço da cozinha e da sala de jantar, formando então, uma ilha de movimentação circular.

Mesa do escritório e biblioteca                                                        Junção da  cozinha e sala de jantar

Foto: Talita Abraham                                                                                           Foto: Talita Abraham

 

Outra divisão é a realidade pelo segundo lance de escadas, em meio nível, estas guiando para o ambiente privado: os dormitórios. Os poucos degraus, a vegetação localizada em um pequeno jardim interno e a mesa do escritório são os bloqueadores visuais encontrados. A disposição das cadeiras e sofás da sala também enfatiza e busca o exterior, deixando os quartos com um pouco mais de privacidade.

Lay-out da sala

Foto: Talita Abraham

 

Condicionantes ambientais

 

Sendo a orientação da sala para o leste, aproveita-se a vista e ainda recebe-se o sol da manhã em toda a extensão da fachada voltada para o mar. Os quartos dispostos na fachada oeste necessitam de proteção solar, já que o sol da tarde nos meses mais quentes pode acarretar desconforto. Os brises foram dispostos cumprindo o bloqueio solar e para que a luz conseguisse penetrar no ambiente, projetou-se um deslocamento da cobertura (shed), o que permitiu a entrada de luz do leste.

 

Leste                                                                                                   Oeste

 

      

         Incidência solar

 

 

                                                                         Corte esquemático

 

Na porção central da edificação localizam-se dois focos de luz zenital. Um ilumina com qualidade o lavabo e os outros dois pontos estão dispostos acima da vegetação do jardim interno. Estes pontos suprem parte da necessidade diária de luz garantindo uma grande economia de luz elétrica e obtendo qualidade de iluminação.

Iluminação no lavabo                                                                                 Luz zenital sobre vegetação

Foto: Talita Abraham                                                                                           Foto: Talita Abraham

 

Próximo à torre de circulação de serviço, existe outro elemento de penetração solar: os blocos vazados. “A criação mais notável neste campo foi o emprego – de maneira absolutamente nova – de blocos vazados de concreto chamados “cobogós” (primeira sílaba do nome dos três inventores). Eram eles então empilhados uns sobre os outros, para a construção de paredes cheias, sólidas e baratas. Luís Nunes e seus colegas tiveram a idéia de utiliza-los no estado bruto, como brise-soleil elementares, constituindo uma espécie de anteparos transparentes, assegurando assim uma boa ventilação e, em certos casos, uma proteção adequada contra os elementos naturais.” (BRUAND,1981.pg79)                  
         No caso da residência Cassol, a ventilação ficou restrita apenas às aberturas por causa do vento forte que provém do sul na Ilha de Santa Catarina. Os blocos utilizados se tornariam canalizadores diretos do vento, o que não proporcionaria conforto térmico.          

                                                                                             Blocos vazados do nível da cozinha

                                                                                                                   Foto: Talita Abraham

Simetria/ assimetria/ equilíbrio

 

A forma principal da residência se resume a um quadrado. Ao longo do projeto e até mesmo durante e após a execução deste, a forma inicial sofreu uma série de intervenções, como por exemplo, o acréscimo dos banheiros criando volumes que se lançam da edificação, o volume vertical da escada e o bloco térreo. O equilíbrio se dá devido à disposição dos pilares na porção central da edificação e aos brises protegendo tanto a fachada leste quanto oeste. Para a composição formal, encontra-se a torre da circulação de serviço.

Volume criado pelos banheiros

Foto: Talita Abraham

4.1.1. Maquete Eletrônica da Residência

 

Para a maquete eletrônica da residência utilizamos o software Autodesk Architectural 2004. Com ele é possível criar os elementos que compõem uma construção e visualizar o volume criado de todos os ângulos.

Inicia-se com a criação dos componentes da construção, com os pavimentos e suas lajes. Enquanto elevam-se paredes, como o recurso “view”, pode-se incorporar todos os elementos à maquete e acompanhar o crescimento do trabalho.

 

 

Foto 1 – Primeiras etapas da execução da maquete

Foto 2 – Desenvolvimento da maquete

 

O resultado final apresentado a seguir é a representação virtual dos elementos da construção estudada. Com ele pode-se compreender melhor os desníveis criados na residência assim como a forma de acessos aos seus níveis.

A possibilidade de realização de uma maquete virtual requer tempo e treinamento. Uma maquete, com a utilização de todos os recursos disponíveis nos softwares especializados, consegue criar efeitos idênticos aos naturais, como jogos de luz, texturas e massa vegetal. Como o intuito do estudo não é a representação de todos os detalhes e agentes físicos atuantes, e sim, a compreensão das técnicas construtivas e da ocupação dos desníveis criados, considera-se de extrema importância a representação realizada da construção em estudo.

O diferencial deste estudo é a atenção ao terreno no qual a residência está inserida. Compreende-se que não é possível projetar uma obra em encosta sem estudar o terreno e as características que implicam em um terreno acidentado, como por exemplo, cursos d’água, cortes e aterros. A representação topográfica é essencial e deve se fazer presente em todos os estudos de projetos implantados em encosta. Por esses motivos, foi desenvolvida além da maquete da residência, a maquete 3D do terreno com a ajuda do aplicativo ArcView.

 

Foto 3 – Maquete realizada no programa Autodesk Architectural 2004

 

 

 

Foto 4 – Estudo do terreno realizado no programa ArcView

5. CONCLUSÃO:

 

Iniciamos a pesquisa realizando a revisão bibliográfica sobre ocupação de encostas e Arquitetura Moderna no Brasil. Com a escolha de um exemplar de residência moderna em Florianópolis (residência Cassol), entramos em contato com os arquitetos responsáveis pela obra. Com a colaboração dos arquitetos, e também proprietários da obra, conseguimos o projeto arquitetônico da residência, material este vetorizado para posteriores análises. Realizamos, com o auxílio da arquiteta Alana Scheller e graduanda Michele Ropelato, os levantamentos fotográficos externos e internos (fotografias dispostas ao longo dos resultados de análise) para estudo morfológico e detalhamento da análise do projeto.

Pela falta de ajuda de especialistas ainda não foi possível a realização do levantamento topográfico do terreno. Conseguimos obter um antigo levantamento topográfico considerado superficial, o que demandaria um levantamento completo e recente. Foi realizado um pedido de bolsa de apoio técnico ao CNPq, para a contratação de um especialista em topografia, mas a resposta não chegou a tempo da conclusão deste relatório. Os softwares utilizados foram emprestados do Laboratório do Prof. Carlos Loch e do curso de Autodesk Architectural ministrado na SoftCAD pelo professor Maurício Freitas, pois o projeto apresentado ao Edital para as Ciências Sociais Aplicadas do CNPq não obteve aprovação, apesar do mérito. Pretendemos dar entrada novamente na solicitação para a compra dos softwares no Edital Universal 2004.

Com o contato com a residência moderna dos arquitetos Carmem e Ademar Cassol nasceu a necessidade de aprofundar nossos conhecimentos sobre as obras consagradas do movimento moderno e verificou-se a existência de muitas obras pertencentes a arquitetos renomados que trabalharam tanto em São Paulo quanto no Rio de janeiro (Joaquim Guedes, Marcos Acayaba, Lina Bo Bardi, Oscar Niemeyer, Rino Levi entre outros).

Os conceitos que unificam a linguagem moderna com a ocupação de encosta são bem melhor quantificados nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, resta verificar se as suas características são semelhantes ao exemplo estudado de Santa Catarina. Como proposta de continuidade deste estudo, seria de grande interesse o estudo e visita destas obras. O aprofundamento da análise destes ícones da arquitetura faz-se necessário bem como o estudo de outros aspectos ainda pouco explorados desta análise, tais como a vegetação utilizada no projeto de Paisagismo e o Conforto Ambiental destas residências. Portanto, sugerimos que assim como foi realizado o estudo da residência Cassol, sejam estudados e confeccionadas maquetes de outros exemplos significativos, para simular e analisar os aspectos paisagísticos e ambientais da Arquitetura Moderna Brasileira.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

6. Referências bibliográficas:

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YIN, Robert K., Estudo de caso: planejamento e métodos, Porto Alegre: Bookman, 2001.



[1]  Urbanização de Encostas – A Ocupação do Morro da Cruz, Florianópolis, SC. Estudo Geotécnico.